Wednesday, March 15

OPINIÃO ASSOCIATIVA
Madeira Pinto

Compelido a dizer umas palavras a propósito do texto que titulas "Opinião Sindical", quase poderia repetir o teu primeiro parágrafo na íntegra, exceptuando o Tribunal onde estou colocado e o tempo de serviço aí prestado.
Ou seja, sou do mesmo curso do CEJ. Conhecemo-nos, portanto. Não obstante o contacto não ter sido muito próximo, conheço-te o suficiente para te respeitar. O texto "opinativo-sindical" que postaste no site da Lista que integras ("B" penso eu) interpreto-o como um lapso, um momento infeliz, daqueles que todos temos e, receio, eu provavelmente mais que tu.
E explico-te porquê, concretizando.
Para além das generalidades (não pejorativo) em que todos estamos de acordo, avanças depois, no terço final do texto, para uma aplicação prática das lições do Lenine. Isto é, atacas o adversário na sua pessoa, ou em pessoa próxima em função das circunstâncias, mas não atacas as suas ideias.
Denegrir o adversário para o inferiorizar, para o abater, para o diabolizar.
Não é próprio de ti, daquilo que de ti conheço.
Por não ser característico da tua pessoa levo-o em conta de uma passageira infelicidade.
Mas não esqueças: essa passageira infelicidade tem um significado sócio-sindical; o lançar da primeira pedra.
Vamos então à "táctica" que, quer queiras quer não, resulta do teu texto.
Nos parágrafos 10 e 11 acusas, subliminarmente, a lista adversária (com uma letra diferente, "A" penso eu) e da qual faço parte, de "divisionismo" (outra táctica leninista): "vocês concorrem, logo estão a dividir os juízes". É esta a tua primeira "mensagem". Por sinal já a ouvi, meses atrás, a destacado elemento da tua "equipa".
Não resiste à mais elementar análise. Então a democracia não é pluralismo?
Ou são vocês que definem os momentos azados para o aparecimento do pluralismo, devendo a "minha equipa" presumir que este momento não é adequado porque há eleições?
Passo por cima do exagerado panegírico (já vês o que penso, ao adjectivar um panegírico como exagerado) da actual Direcção, o que deve ter sido difícil, face à desastrada actuação desta no último ano. É obra lançar um panegírico desse calibre a uma Direcção que andou a reboque dos acontecimentos, nada previu – e era fácil de prever – e que, consciente ou inconscientemente, andou a reboque das tácticas "sindicaleiras" de terceiros e se deixou confundir com mais uma célula marioneta de uma qualquer confederação sindical.
Atacas o Movimento Justiça e Democracia. Esclareço-te que faço parte da lista mas dele, movimento, não faço parte.
Que é como quem afirma: não confundas Lista com Movimento, mas eu sei que é irresistível – a tentativa de confusão - como manobra de comunicação.
Ou seja: eles que se defendam, porque são maiores e … juízes.
Que é como quem pergunta: os juízes que dele fazem parte sofrem de capitis diminutio? Foram segregados? O exercício democrático eleitoral está-lhes vedado? Escusas de responder! Sei que darás resposta negativa a qualquer das perguntas. Mero exercício retórico, portanto.
Mas, enfim, estas seriam "tácticas" aceitáveis no jogo eleitoral. As que se seguem são mais difíceis de aceitar.
Atacas pessoalmente dois colegas. De um não referes o nome, mas toda a minha gente percebeu: é o Raul Esteves. É acusado de ser sabático ou bolseiro.
Belo! Propõe a criminalização da conduta! Ou decreta o ostracismo sabático!
E por fim o Martins. Que sugeres, não obstante o não digas, que anda a reboque do sabático bolseiro. Manobra política "hard". Habitual em política politiqueira.
Mas não o atinges apenas a ele. Dás, por reflexo, todos os integrantes da lista como bonecos manejáveis. Por mim, passo à frente.
Mas do que conheces do António Martins, no entanto e porque referes expressamente o seu nome, tenho a certeza de que lhe deves um pedido de desculpas. E sei que lho apresentarás em devido tempo.
Foi, precisamente, por conhecer o António Martins que aceitei o seu convite para integrar a lista. Homem de princípios; de vontade assumida; imune a caprichos e influências, mas que sabe ouvir. Com uma visão, próxima da minha, de qual deve ser o papel da judicatura e do movimento associativo.
Percebes? Foi a pessoa, mais que qualquer texto ou discurso, o que me levou a integrar uma lista, depois de ter pensado abandonar a Sindical Associação, face à desastrada sindical actividade e ao taciturno pós-greve.
E nota! Já integrei listas da Associação com nomes que constam da que tu apoias. E apesar de conhecer vários dos colegas que integram a lista encabeçada pelo Desembargador Baptista Coelho, e de ter deles a melhor opinião pessoal, sei que a mentalidade sindical reinante se revela, no colectivo, incapaz de liderar, de forma adequada, os próximos difíceis anos da Judicatura.
Ao invés, vejo essa capacidade no António Martins. Vontade e abertura de espírito, raciocínio claro e imune a influências indesejáveis. E, tu sabes, isto não é panegírico.
Termino, porque estas linhas vão mais longas do que o desejado.
Não sem antes te dizer que não faço qualquer apelo para que votem na lista que integro.
Parto do princípio de que cada um dos juízes tem vontade, sabe o que quer e não é qualquer apelo meu (com ou sem formandos como herdeiros espirituais) que os fará mudar de opinião.
Pelo menos não deveria!
É que começa aqui, no respeito mútuo, a essencial mudança de mentalidade e consequente prática associativa.
Com os cumprimentos do colega que preferiria encontrar-te num jantar de curso.

João Henrique Gomes de Sousa
Círculo Judicial de Évora